O desafio
A revisão 2015 da ISO 9001 tem a clara visão estratégica de refletir as fortes mudanças no ambiente de negócios, cada vez mais complexo e dinâmico, e para tanto apresenta um conjunto de requisitos capaz de apoiar as organizações por alguns anos neste novo cenário.
São mudanças como:
- A reestruturação da norma com base no anexo SL
- O SQG considerando o contexto em que opera a organização
- A ênfase no papel da Liderança
- O Conhecimento como recurso
- A substituição de “documento” por “informação documentada”
- A “Melhoria” ampliando o conceito de “Melhoria Contínua”
e muitas outras.
Mas destaca-se a introdução no item 0.3.3 da “Mentalidade de Risco”, onde:
Esse requisito aparece em diversos pontos da norma, tornando a importância e relevância dessa abordagem absolutamente clara. Isso fica explícito no item 6.1:
Essa mudança implica na introdução de um processo completamente novo: a Gestão do Risco, com uma terminologia e ferramentas específicas.
O desafio dos gestores e responsáveis pela Qualidade é decifrar essa atividade, identificando e implementando as atividades e mecanismos adequados à sua organização.
A proposta deste artigo é desenvolver e apresentar uma metodologia capaz de satisfazer adequadamente esse requisito de um modo eficaz para a organização.
A Gestão de Riscos
Vamos então entender melhor o que significa: Gestão de Riscos.
Inicialmente temos que a norma ISO 9001:2015 estabelece o conceito fundamental de que:
risco é o efeito da incerteza, e qualquer incerteza pode ter um efeito positivo ou negativo.
De maneira análoga, a ISO/IEC 31000:2009 apresenta a definição de RISCO em 2.1 como:
- “Risco é o efeito da incerteza nos objetivos.”
Logo, a norma estabelece o sério e ao mesmo tempo interessante desafio da implantação de seus requisitos sem negligenciar os Riscos a serem considerados.
É importante destacar que a própria norma ISO 9001 fala de “riscos e oportunidades”, apesar de já ter esclarecido que um risco pode ter um efeito ou consequência positiva.
Ou seja, seria mais adequado falar em “ameaças e oportunidades”.
Além disso, as normas estabelecem uma conexão direta “risco” e objetivos.
Por isso devemos estar preparados para gerenciar tanto riscos que degradam o desempenho da organização como de riscos que facilitam o atingimento dos objetivos definidos.
O caminho para buscar uma solução satisfatória para o atendimento dos requisitos da norma sob esse novo prisma passa por visitarmos as Normas da Série 31000 sobre Gestão de Risco e buscar:
- Orientação sobre os requisitos próprios de tratamento de riscos e
- Alternativas de métodos e ferramentas para sua realização.
Iniciamos pela ISO 31000:2009 que trata de “Gestão de riscos – Princípios e diretrizes”, definindo que os princípios para que uma gestão seja eficaz ela:
- crie e protege valor.
- seja parte integrante de todos os processos organizacionais.
- seja parte da tomada de decisões.
- aborde explicitamente a incerteza.
- seja sistemática, estruturada e oportuna.
- baseie-se nas melhores informações disponíveis.
- seja feita sob medida.
- considere fatores humanos e culturais.
- seja transparente e inclusiva.
- seja dinâmica, iterativa e capaz de reagir a mudanças.
- facilite a melhoria contínua da organização.
Deste modo qualquer metodologia ou soluções que adotemos devem nortear-se por estes princípios.
Já o capítulo 5 “Processo” da ISO 31000:2009 recomenda que o processo de gestão de riscos seja:
- Parte integrante da gestão,
- Incorporado na cultura e nas práticas, e
- Adaptado aos processos de negócios da organização.
E estabelece igualmente as atividades principais do processo de avaliação de riscos, como apresentado na figura abaixo:
Fica então evidentes quais as necessidades a serem atendidas quando da implantação de uma metodologia de Gestão de Risco.
São estas mesmas atividades que devem acontecer dentro do SGQ para efetivamente realizar um processo de Gestão de Riscos conforme à ISO 9001:2015.
Evidente que isso implica na busca, seleção e uso de uma ou mais ferramentas ou métodos para sua efetivação.
Vamos então à ISO/IEC 31010:2012 “Gestão de riscos – Técnicas de avaliação de riscos” buscar quais as alternativas disponíveis.
Esta norma apresenta em sua “Tabela A1 – Aplicabilidade de Ferramentas usadas para Avaliação de Risco” uma lista com 31 ferramentas cujo nível de aplicação pode ser avaliado através da análise de sua capacidade para:
- Identificação de riscos
- Análise da consequência do risco
- Análise da probabilidade do risco
- Análise do nível de risco
- Avaliação do risco
Desta avaliação podemos destacar como ferramentas capazes de atender uma ampla aplicação:
- Avaliação de Riscos Ambientais
- Técnica Estruturada de What-If (WI)
- Manutenção Centrada em Confiabilidade (RCM)
- Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA)
As três primeiras técnicas são amplamente conhecidas e muito utilizadas em determinadas áreas e situações.
Entretanto estas e outras ferramentas especializadas, como a Análise Preliminar de Risco (APR), são muito específicas e direcionadas para certos tipos de negócio e escopo. Além disso, falta-lhes um mecanismo ou estrutura para uma efetiva análise vertical dentro da organização.
Seu eventual uso exigiria o emprego de outras técnicas complementares e mesmo de um esforço de consolidação, para considerarmos todos os distintos processos de uma organização.
Adicionalmente, qualquer solução precisa ser funcional dentro de um Sistema de Gestão da Qualidade de uma organização, que opera num determinado contexto e busca atender diversas partes interessadas através de uma abordagem de processo. Tais metodologias não parecem aptas a um desafio desta magnitude.
Outros métodos importantes para Gestão do Risco têm sido cogitados para uso no âmbito da ISO 9001:2015 como:
- Matriz SWOT
- 5 Forças de Porter
devem ser consideradas.
Métodos, como os acima citados, propiciam uma visão estratégica interessante mas não são apropriados para um processo de análise e investigação profunda.
Temos então o FMEA (Análise de Modo e Efeito de Falha) que apresentaria os seguintes pontos positivos:
- Aplicabilidade e adaptabilidade
O FMEA pode ser aplicável a qualquer organização e negócio, bem como qualquer processo.
- Realização do processo completo de Gestão do Risco
É o único método capaz de viabilizar essa gestão de modo integral.
- Método analítico e estruturado
Capaz de “fatiar” uma grande questão até um nível de fácil tratamento, numa sequência lógica e de simples aplicação.
- Independe da efetiva existência do processo e de recursos técnicos e materiais
É baseado apenas na existência de uma equipe multidisciplinar experiente.
- Possibilita a avaliação, cálculo e priorização do risco
A gestão do risco é inerente ao FMEA e representa o núcleo central de seu funcionamento.
- Permite monitorar o tratamento dos riscos, registro das ações e melhoria
O FMEA controla o processo de Melhoria do nível de risco do processo e da organização.
- Aplicável à avaliação de riscos positivos ou oportunidades
O método FMEA pode ser utilizado para gerenciar as oportunidades.
Neste contexto, com base na
- simplicidade de funcionamento,
- ampla difusão e
- fácil disponibilidade de treinamento e consultoria,
torna-se evidente que uma escolha é o FMEA como metodologia principal para Gestão de Riscos no âmbito da ISO 9001:2015.
A solução: Business Risk FMEA
Desde seu advento em 1949, o FMEA firmou-se como uma das principais metodologias da Qualidade, assumindo inclusive diversas formas e versões para se adaptar a aplicações específicas.
Deste modo, hoje temos disponível:
- System FMEA para projeto de sistemas
- Design FMEA para projeto de produtos
- Process FMEA para processos de manufatura
- Machinery FMEA para máquinas e dispositivos
- Logistic FMEA para fluxos logísticos
- Service FMEA para serviços
- Project Risk FMEA para gestão de riscos em Projetos
e diversas outras variações.
Entretanto, todas estas variações mantêm as características básicas do modelo inicial.
Este artigo propõe o
BUSINESS RISK FMEA
isto é, um FMEA aplicado no processo de Gestão de Riscos de um Sistema de Gestão da Qualidade, cujas bases conceituais são:
- A Gestão do Risco em uma organização abordada através de seus processos
- Os riscos do processo identificados a partir de seus indicadores
- Os modos de falha são internos ao processo, já eventos são externos a organização
- Os efeitos são percebidos pelas partes interessadas ao impactar num indicador
- As causas de falha são buscadas sempre dentro do processo e assim tratáveis
- A avaliação do risco pela severidade, ocorrência e detecção
- O cálculo do NPR para priorizar os riscos e realizar seu efetivo tratamento
- Os critérios de priorização de risco mostram o perfil e apetite de risco da organização
- O recálculo do NPR após realiza o monitoramento e análise crítica do risco
- O FMEA atualizado após mudanças no processo e no contexto, revisado regularmente.
Atenção, como todas as outras variações, mantêm as características básicas de:
- ser um método analítico
- aplicar o trabalho em equipe multidisciplinar
- permitir considerar de modo completo um sistema, produto ou processo
- antes mesmo de sua efetiva existência ou realização
- identificar e analisar riscos potenciais
- avaliar e priorizar riscos
- definir e monitorar ações
- realizar a Melhoria Contínua.
O BR FMEA segue os princípios e diretrizes de um FMEA típico e utilizaremos neste trabalho o padrão da AIAG em sua quarta edição, por ser um padrão internacional amplamente conhecido e com fácil possibilidade de treinamento e qualificação.
Eis sua figura:
Lembrando que o risco pode ter impacto negativo (ser uma ameaça) ou positivo (ser uma oportunidade), temos então:
- BR (T) FMEA: quando consideramos somente as ameaças aos objetivos da organização
- BR (O) FMEA: quando analisamos as oportunidades para obtenção de resultados
Na seqüencia, apresentamos as etapas para realização de um estudo de BR (T) FMEA.
1ª Etapa BR (T) FMEA: montar equipe FMEA
O FMEA depende fortemente de uma equipe de desenvolvimento adequada e para isso recomenda-se que:
- seja composta por entre 4 e 6 participantes
- multidisciplinar, com representantes de áreas afins e partes interessadas
- com conhecimento e experiência do processo
- com a presença de um especialista FMEA para garantir a boa aplicação do método
- sob coordenação do responsável, piloto/dono do processo
- recupere um máximo de informações estratégicas sobe a organização.
É essencial obter uma visão estratégica do negócio, para tanto deve-se recuperar o máximo de informações e análises já existentes que nos propiciarão uma ampla e adequada visão da empresa, seus processos e contexto externo.
Essa base geral de informação sobre o negócio é formada por documentos como:
- Plano de Negócios
- Mapa de Macroprocessos da organização
- Análise da Matriz SWOT
- Análise das Cinco Forças de Porter
- Plano Estratégico de Negócios
- BSC Balanced Score Card
- Plano de Contingência
- Pesquisa de Clima Organizacional
- Pesquisas e estudos de mercado, etc.
Do mesmo modo, a profundidade e a riqueza de elementos de análise são fundamentais para estabelecer um FMEA igualmente detalhado e capaz de gerar ações eficazes.
Nesta etapa já deve estar estabelecido um planejamento geral para realização dos estudos FMEA para cada processo organizacional, bem como uma definição inicial dos participantes envolvidos no esforço.
Ressalto que a qualidade final de um estudo de FMEA depende essencialmente da existência de uma equipe qualificada, motivada e liderada para a realização de um trabalho excelente.
2ª Etapa BR (T) FMEA: definir limites do estudo
Em qualquer FMEA é importante delimitar claramente o escopo do estudo para garantir que o perímetro de análise seja abordado completa e profundamente.
Definir limites do estudo significa:
- Estabelecer em detalhe qual processo organizacional analisar: limites, nível operacional, etc…
- Buscar informações detalhadas sobre o processo
- Levantar os indicadores de desempenho do processo
- Verificar partes interessadas e suas expectativas
Neste momento deve-se trazer para subsidiar a análise detalhes sobre o processo:
- o diagrama da tartaruga do processo ou SIPOC
- o fluxograma de atividades do processo
- os indicadores de desempenho do processo
- plano de Ação para Melhoria do Processo e
- toda informação documentada relativa ao processo em análise.
Deve-se confirmar o processo em análise, seus limites e interfaces em relação aos demais processos da organização. Isto evitará eventuais esquecimentos ou sobreposições.
Esta também é uma boa oportunidade para verificar se:
- Todas as partes interessadas estão consideradas no processo
- Os indicadores existentes monitoram efetivamente as necessidades e requisitos das partes.
Um BR (T) FMEA considera o risco para atender as expectativas das PARTES INTERESSADAS:
- Cliente final e Processos internos clientes
- Sócios da organização
- Fornecedores e parceiros de negócio
- Funcionários e sindicato
- Sociedade e Governos, etc…
O BR (T) FMEA de um processo NÂO abrange modos de falha de outros processos internos, pois cada processo deve ter seu próprio FMEA, nos quais se busca garantir os resultados de seus clientes, inclusive os internos.
Tampouco o BR (T) FMEA pode garantir a adequada identificação das partes interessadas e definição de indicadores de desempenho.
Esta visão preparatória deve ser definida pela Alta Direção.
3ª Etapa BR (T) FMEA: levantar dados
Para cada indicador, levantar dados implica:
- Coletar resultados históricos dos indicadores
- Recuperar objetivos e trajetórias estabelecidas
- Levantar ações e medidas já definidas e seu avanço
- Iniciar o preenchimento do formulário de BR (T) FMEA
A análise dos processos organizacionais será executada através de seus indicadores de desempenho, os quais sintetizam as expectativas das partes interessadas e monitoram o atingimento desses objetivos.
Este enfoque permite investigar em detalhe todos os riscos potenciais de modo analítico e completo já que qualquer risco potencial terá sempre impacto num indicador.
Neste momento inicia-se o preenchimento do formulário entre os campos de A até G.
4ª Etapa BR (T) FMEA: realizar análise
Neste passo deve-se:
- Listar os indicadores definidos no formulário
- Levantar potenciais eventos de risco e modos de falha
- Identificar efeitos dos modos e eventos
- Estabelecer causas potenciais dos modos de falha e eventos de risco
O estudo avançará, indicador por indicador, desde a coluna a1 até a coluna i, deve-se preencher:
- ITEM / INDICADOR (a): Esta informação pode ser separada em duas ou mais colunas.
- Indicadores do Processo (a1): Indique os indicadores definidos e implementados para monitorar o desempenho do processo organizacional em estudo.
- Requisitos (a2): Indique detalhes e requisitos de cada indicador: periodicidade, cálculo, forma de registro, unidade, etc…
Modo de Falha Potencial / Evento de Risco (b):
Num BR FMEA é definido como a maneira pela qual o indicador pode potencialmente desviar dos resultados esperados. Cada indicador deve ter múltiplos modos de falha e eventos de risco.
Serão:
- Modos de falha, quando internos ao processo sob estudo.
- Eventos de risco, quando externos à organização, isto é, relacionados ao ambiente e contexto aonde a empresa opera.
Modos das falhas potenciais devem ser descritos em termos técnicos e não como um sintoma percebido pelo “Cliente”.
A identificação de modos potenciais de falha e eventos de risco pode ser feita através de diversas técnicas como:
- Brainstorming
- Método 6-3-5
- Workshop
- Diagrama de Ishikawa
- Mapa Mental, etc…
Eis alguns exemplos de Modos de Falha e Eventos de Risco num BR (T) FMEA, dentro de um processo de Recursos Humanos:
Efeito da Falha Potencial (c):
É o efeito do modo de falha e evento de risco como percebido pelas partes interessadas.
Recomenda-se:
- Descrever os efeitos da falha como a consequência ou a forma como a falha é experimentada, sofrida pelo cliente / partes interessadas.
- Estabelecer claramente se a falha pode impactar na segurança ou não cumprimento de requisitos regulamentares.
Para o Cliente/Partes interessadas, os efeitos deveriam ser definidos em termos de performance do processo.
Eis alguns exemplos de efeitos num BR (T) FMEA, considerando um processo Produção:
Causa Potencial do Mode de Falha / Evento de Risco (f):
para modos de falha, internos ao processo,
causas são uma indicação de como a falha pode ocorrer
para eventos de risco, externos à organização,
causas são as fraquezas, debilidades ou pontos sensíveis do processo em análise.
De toda maneira, causas devem ser descritas:
- como algo que pode ser corrigido ou controlado.
- de forma completa e nunca com frases genéricas,
assim possibilitando um tratamento adequado.
Podem existir várias causas para um modo de falha e devemos assumir que as saídas vindas de processos anteriores estão corretas.
Eis alguns exemplos de causas num BR (T) FMEA, considerando um processo Compras:
5ª Etapa BR (T) FMEA: avaliar riscos e NPR
Neste passo deve-se:
- Definir os níveis de severidade e ocorrência
- Identificar os controles para prevenção e detecção
- Definir o nível de detecção
- Calcular o NPR
Isso é feito de três maneiras:
- Severidade – avaliação do nível de impacto da falha no cliente.
- Ocorrência – com que probabilidade a falha pode ocorrer.
- Detecção – como os controles detectam a causa ou modo de falha
A sistemática de avaliação qualitativa dos níveis de risco é muito adequada aos seus objetivos num FMEA: priorização e controle.
Usaremos cotações negativas para diferenciar do BR (O) FMEA onde as avaliações de oportunidade devem ter cotação positiva.
Severidade - S (d):
É o valor associado ao efeito mais sério atribuído a um modo de falha / evento de risco potencial com relação ao cliente.
A equipe deve aplicar o critério de avaliação, de forma consistente, mesmo se modificado para a análise individual de um processo.
Não é recomendável a modificação do critério de classificação para as notas 9 e 10, mesmo após implementação de ações. Modos de falha com nota 1 não necessitariam de ser analisados posteriormente.
Eis a tabela de Severidade para o BR (T) FMEA:
Ocorrência - O (g):
É a probabilidade de que um modo de falha ou evento de risco venha a ocorrer.
É uma estimativa de probabilidade da ocorrência de um modo de falha ou evento de risco potencial em escala de 1 a 10. Usar dados estatísticos de processos similares, se possível.
Eis a tabela de Ocorrência para o BR (T) FMEA:
Controles aplicados no Processo (h):
Atividades que podem tanto prevenir a causa de uma falha, como detectá-la quando ocorrer.
Podem ser de:
- Prevenção (h1): são métodos ou técnicas capazes de reduzir a exposição do processo aos eventos de risco, fortalecendo pontos sensíveis e melhorando o próprio processo.
- Detecção (h2): são métodos ou técnicas capazes de detectar o evento de risco com tempo suficiente para um plano de contingencia ou agir diretamente no evento de risco.
Temos como exemplos de Controles de Prevenção:
- Técnicas de Qualidade como Poka-Yoke, CEP,…
- Melhoria Contínua dos Processos (Kaizen)
- Busca da Excelência Organizacional (LEAN, WCM,…).
E como exemplos de Controles de Detecção:
- Análises estratégicas tipo SWOT
- Monitoramento Severo de Indicadores,
- Sistemas automáticos de alerta sobre KPI’s.
Eis alguns exemplos de Controles num BR (T) FMEA, considerando um processo Logístico:
Deteção - D (i)
É classificação associada com o melhor controle de detecção identificado na coluna de Controles de Detecção.
Quando mais de um controle for identificado é recomendado que seja incluída a classificação de cada um deles.
Deve-se:
- Registrar a classificação do menor valor na coluna de detecção.
- Assumir que a falha ocorreu para avaliar se os controles do processo são capazes de detectá-la.
- Não assumir que a classificação de detecção é baixa devido a ocorrência ser baixa.
Eis a tabela de Detecção para o BR (T) FMEA:
Avaliação de Risco NPR (j):
O cálculo do Nível de Prioridade de Risco faz-se através de:
NPR = Severidade X Ocorrência X Detecção
Serve para:
- Priorizar a ação sobre os riscos de maior nível
- Definir níveis risco total de processos e da própria organização
- Avaliar a melhoria do nível de risco, após cada ciclo de ações.
Tabelas e formas de cálculo podem ser adaptadas ao caso específico.
Eis um exemplo de cálculo de NPR num BR (T) FMEA, considerando o processo Compras:
Uma avaliação de risco poderia estabelecer parâmetros monetários. Entretanto temas graves como a segurança das pessoas e a sobrevivência do meio ambiente seriam de avaliação impossível.
6ª Etapa BR (T) FMEA: implantar ações
Neste passo deve-se:
- Definir o critério de priorização para tratamento
- Buscar soluções para cada risco prioritário
- Definir ações com responsável e prazo
- Monitorar e garantir a implantação das ações
Cada organização dependendo do tipo e ambiente de negócio, bem como de um perfil próprio de atuação terá uma reação e abordagem específica aos riscos. Como na figura:
Deste modo poderá reagir de diferentes maneiras:
- Evitar o risco e decidir não iniciar ou sair da atividade sob risco
- Apostar no risco e explorar a oportunidade ou
- Aceitar o risco conscientemente e agir através de:
- remoção da fonte de risco
- alteração da probabilidade
- melhoria da detecção
- alteração das consequências
- compartilhamento do risco com outras partes
Priorização das ações pelo NPR
Recomenda-se identificar os riscos com maior NPR e agir sobre eles com prioridade.
A organização pode, por exemplo, decidir tratar os dez riscos de NPR mais elevado.
O uso de limites de NPR NÃO é uma prática recomendável para determinar a necessidades de ações.
Rodadas periódicas de revisão do FMEA, seguindo a mesma regra, irão progressivamente baixando o NPT Total do processo.
Severidade Alta (9 ou 10) merecem atenção especial: assegurar que o risco é tratado, através de controles ou ações recomendadas.
Severidade 8 ou abaixo considerar causas com altos índices de ocorrência ou detecção.
Ações Recomendadas (k):
Estas ações devem tornar o precesso:
- Mais robusto e preparado para enfrentar eventos de risco
- Mais confiável e seguro para reduzir o risco de modos de falha
Recomenda-se melhorar o processo reduzindo seus riscos na seguinte ordem: severidade, ocorrência e detecção.
- Para a redução da Severidade (S): somente uma revisão do processo pode abaixar a classificação.
- Para a redução da Ocorrência (O): atuar na melhoria da capabilidade do processo e no controle de uma ou mais causas ou mecanismos dos modos de falha.
- Para a redução da Detecção (D): introduzir métodos à prova de erro, melhorar os métodos de detecção, bem como alterar o processo para aumentar a probabilidade de detecção.
Eis alguns exemplos de Ações Recomendadas BR (T) FMEA, considerando um processo de Vendas:
7ª Etapa BR (T) FMEA: Controlar os resultados
Neste passo deve-se:
- Coordenar a efetiva implantação das ações definidas
- Garantir a perenização dos controles estabelecidos
- Controlar os resultados obtidos
- Verificar a eficácia
- Planejar a próxima revisão deste FMEA
Neste momento inicia-se o preenchimento do formulário:
- Responsabilidade & Data Prevista de Conclusão (l): indicar o nome da pessoa ou da organização responsável de cada ação, incluindo a data prevista de conclusão.
- Resultado das Ações (m~n): estes campos identificam os resultados de quaisquer ações que foram concluídas e que atuaram nas classificações de S, O, ou D (e RPN).
- Ações Tomadas e Data de Conclusão (m): após a ação ser implementada, faça uma breve descrição da ação tomada e da data efetiva de sua conclusão.
- Severidade, Ocorrência, Detecção e NPR novo (n): após as ações terem sido concluídas, determine a nova classificação e registre nas colunas apropriadas. Então recalcule o novo RPN.
O líder da equipe é o responsável por assegurar que todas as ações recomendadas sejam concluídas ou corretamente tratadas.
Gestão do BR FMEA
O FMEA, como ferramenta da Qualidade, é inquestionável, mas também de uma adequada gestão para obter um máximo de eficácia.
Eis algumas recomendações:
- A Alta Gerencia é a dona do processo FMEA e é responsável por:
- selecionar e aplicar os recursos
- assegurar a efetiva gestão de riscos incluindo prazos
- apoiar o trabalho do time e eliminar obstáculos
- Incorporar as Lições Aprendidas.
- O BR FMEA é um documento vivo e deve ser revisado:
- quando o processo for modificado por qualquer motivo
- quando o contexto e ambiente de negócios apresentarem mudança importante
- quando acontecer um evento de risco
- anualmente, para sua atualização e realização da Melhoria Contínua.
- Um Plano Gestão de Risco deve conter e manter todas:
- as ações definidas para Controle de Prevenção e Detecção
- as ações implementadas para Redução do NPR
- as informações com detalhes de sua implementação e eficácia.
- A atividade mais importante do FMEA é a definição e implementação das ações.
As etapas anteriores apenas possibilitam sua realização.
Conclusão
Este artigo propõe uma modalidade de FMEA desenvolvida para realizar o processo de Gestão de Risco dentro dos requisitos da ISO 9001:2015:
O BR FMEA é um método estruturado para:
- Identificar modos de falha e eventos de risco que possam impactar os objetivos.
- Analisar causas potenciais no processo em análise para modos de falha
- Estimar o risco relacionado a estas falhas, avaliando severidade, ocorrência e detecção.
- Avaliar os controles possíveis para prever e detectar riscos.
- Implantar as ações que devem ser tomadas para melhorar o processo.
- Estabelecer um Plano de Gestão de Riscos que administre a Melhoria Contínua.
O método pode ser aplicado tanto para riscos negativos: ameaças quanto para riscos positivos: oportunidades, apenas utilizando tabelas específicas.
Ao final, devemos lembrar a boa realização da Gestão de Risco depende do envolvimento e compromisso da Alta Direção com esse processo.
Desta forma, o BR FMEA deve ser visto como uma ferramenta a ser usada para ajudar a desenvolver processos mais robustos para gerenciar riscos.
Bibliografia
ABNT NBR ISO 9001:2015, Sistema de Gestão da Qualidade – Requisitos
ABNT NBR ISO 31000:2009, Gestão de riscos – Princípios e diretrizes
ABNT NBR ISO 31010:2012, Gestão de riscos – Técnicas de avaliação de riscos
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FMEA, Análise de Modo e Efeitos de Falha Potencial. Manual de Referência 4ª Edição Instituto da Qualidade Automotiva 2008.
PALADY, P. FMEA: Análise dos Modos de Falha e Efeitos: prevendo e prevenindo problemas antes que ocorram. São Paulo: IMAM, 1997.
PRITCHARD, Carl, Risk Management, Concepts and Guidance 2nd Edition., ESI International (2001).
RAMOS, Eliani F. A Gestão de Riscos usando FMEA. Revista Mundo PM número 10,
- Páginas 71 a 74.
STAMATIS, D. H. Failure Mode and Effect Analysis FMEA from Theory to Execution. Quality Press ASQ, 1995.
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Sobre o Autor - Gregório Suarez
Gregório Suarez é Professor e Consultor em Qualidade e Gestão de Serviços da RONIN Consultoria em Curitiba (PR-Brasil).
Coordena o Blog Quality Road: https://qualityway.wordpress.com/, com acesso GRATUITO a mais de 500 artigos das áreas de Qualidade e Produtividade.
Engenheiro de Produção (POLI–USP), com MBA em Gestão de Empresas (PUC/PR), Pós-graduação em Organização Industrial (Fundação REFA), Examinador PNQ (1996/2000), Auditor IATF 16949 e ASES (Renault Nissan).
Especialista em Qualidade e Produtividade, com 35 anos de experiência em posições de gerência da RENAULT NISSAN MITSUBISHI, FAURECIA, FIAT CNH, VOLVO, SIEMENS e DAIMLER BENZ.
Professor Universitário de Engenharia Industrial, Gestão Qualidade, Gestão Estratégica, Custos, Lean Thinking, ISO 9000, FMEA, CEP, Indústria 4.0, TPM e Supply Chain Management.
Comunicação em inglês, francês e espanhol.
Este texto foi escrito por Gregório Suarez. Clique aqui para conhecer mais sobre ele.
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